martes, 18 de diciembre de 2012

Mensaje de Navidad del Obispo de la Iglesia Lusitana (Comunión Anglicana)




Como consideramos que es de fácil comprensión no hemos querido hacer la traducción al castellano en evitación de errores de interpretación.


No Natal, “haja Deus”

Em ano relativamente recente, cruzei-me na rua com um amigo de infância acompanhado de sua neta, uma menina de 3 a 4 anos. Em véspera de Natal dirigi-me naturalmente à criança perguntando o que esperava que o menino Jesus lhe trouxesse. Após uma pequena hesitação – pareceu-me que não tinha percebido a pergunta –, disse que tinha pedido ao Pai Natal um determinado brinquedo. Compreendendo o contexto da resposta da menina, insisti: “e o menino Jesus?”. Respondeu-me, decidida, perguntando: “quem é esse?!”. O avô, um pouco embaraçado, procurou explicar-me que agora os brinquedos pedem-se ao Pai Natal… Lembrei-me, logo, dos nossos Campos de Férias onde se têm encontrado adolescentes e jovens que nunca ouviram falar de Jesus nas suas ainda curtas vidas.
 
A festa do Natal, tal como os mais velhos a viveram, tinha por pressuposto o conhecimento, mesmo superficial, dos fundamentos da religião cristã. Toda a gente sabia, acreditando ou não, que o Natal era a festa do nascimento de Jesus, do menino Jesus, como se dizia. Era a incarnação de Deus na linguagem e nos costumes. Ora, tal contexto sociológico e religioso mudou.

Vivemos num mundo plural, o que significa entre outras coisas, que as pessoas têm direito à escolha, nem que seja daquilo que as possa prejudicar. Basta que aceitem as respetivas consequências. E a religião não escapa a esta outra maneira de estar, em especial no mundo ocidental. Por exemplo, em Inglaterra e no País de Gales o censo de 2011 revelou que o número de pessoas que se identificam como cristãos diminuiu de 13% desde 2001. Na década de 2001 – 2011, os cristãos diminuíram de mais de 70% para 59,3% da população. Todas as outras principais religiões registaram aumentos, com destaque para o Islão que passou de 3% para perto dos 5%. Só a percentagem de judeus é que se manteve idêntica, em 0,5% da população. Porém, o que agrava a preocupação dos lideres cristãos é que a categoria que registou o maior aumento em termos numéricos foi a dos que se declaram ateus e agnósticos, que em 10 anos passou de 15 para 25% da população, cerca de 14 milhões de pessoas. Para isso muito tem contribuído o ativo movimento ateísta que na última década procurou apresentar a religião como um obstáculo ao progresso e ao desenvolvimento civilizacional. Não é de estranhar, portanto, que no significado do Natal a matriz cristã, da fé, se vá substituindo pelo registo publicitário das compras e das prendas, sem Deus.

Mas, então, porque é que, em geral, as pessoas, cristãs ou não, no Natal alteram as suas rotinas e se preocupam com coisas e pessoas de modo diferente da dos outros meses do ano? Creio que ninguém foge à “magia” do Natal. A sua simbologia – o presépio com as suas figuras e a árvore com as suas luzes – introduz as pessoas numa afetividade muito pessoal trazendo-lhes à memória a infância, por vezes longínqua, e a ambiência familiar. Talvez seja a figura do menino Jesus a tocar o coração das gentes, como qualquer criança com quem se cruzam na rua. Ou será, mesmo, porque o Natal se vive em tempo invernoso a exigir cuidados na defesa das intempéries, as pessoas, nesta altura do ano, privilegiam o aconchego do lar e dos outros, o resguardo de si próprias, uma espécie de relação estreita com a interioridade pessoal. Ora, é nesta circunstância que nos cabe a nós, cristãos, ser arautos de uma mensagem de confiança e esperança.

O nascimento de Jesus é parte da história da salvação iniciada no povo hebraico, em que Deus cumpre a promessa da vinda do Messias, transmitida pelos Profetas ao povo. Neste sentido, Jesus é a palavra de Deus feita vida, “aquele a quem Deus escolheu e enviou ao mundo” (S. João 10,36). No Natal, portanto, a esperança da antiga tradição hebraica transforma-se numa nova esperança, transmitida a um novo Povo pelo próprio Jesus, o Emanuel, Deus connosco (Isaías 7,14). Quer dizer, em Jesus, Deus dá-nos a conhecer que a esperança é parte essencial da vida humana e concede-nos a certeza da Sua presença para a alimentar e fortalecer. Parece-me, portanto, que, na celebração do nascimento do menino em Belém, devemos “ver” o abraço de Deus.
 
O abraço é, acima de tudo, uma manifestação física de uma amizade verdadeira, de um afeto que está para além do que racionalmente se possa compreender. “A amizade é o dom que não se explica”, diz-nos Tolentino Mendonça, e no abraço se põe tal amizade a nu, tudo se oferece, tudo se recebe e, dessa forma, tudo se expõe até ao âmago. Nada fica para além do abraço. Terminar uma franca conversa entre amigos com um abraço é como selar uma carta de afetos, dá-lhe legitimidade e permite-lhe circular. Por isso, quando Jesus diz “ninguém pode chegar ao Pai sem ser por mim” e “quem me vê a mim vê o Pai” (S. João 14, 6.9), quer dizer claramente que n’Ele se expõe o “todo” de Deus: recetivo, atento, disponível.
 
É, no Natal, naquele Menino, está o abraço de Deus! Afirmemo-lo com firmeza, como cristãos. Somos um povo que tem o seu fundamento genético na ressurreição de Jesus (“se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é inútil e a vossa fé é inútil também” – I Cor. 15,14) mas que “nasce” cada ano, no Natal, tocado pela certeza desse abraço divino a partir do qual toda a esperança é possível. Basta que façamos d’Ele o centro da nossa vida e que no exercício desta levemos o Seu abraço aos outros.
Desejo que neste Natal, como o dito brasileiro, “haja Deus” nos vossos corações.
 
 
                                              + Fernando


Centro Diocesano, V. N. Gaia, 14 de Dezembro de 2012.

Fuente:Departamento de Comunicação
Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica
(Comunhão Anglicana)
Edición: Gabinete de Comunicación-Iglesia Anglicana de España (IERE)

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